Discurso que fiz aos formandos de 2010.2 na Biblioteconomia da UFMG ontem, como paraninfo.
Vou sentir saudades desta turma...
Belo Horizonte, 10/02/2011
Caros colegas componentes da mesa, caros alunos, familiares, amigos,
Em primeiro lugar, eu queria agradecer por ter sido escolhido para ser vosso paraninfo, e pela aceitação da indicação por aqueles que não tiveram aula comigo.
Eu estou muito feliz de estar aqui hoje com vocês.
Não sei se vocês têm ideia de como se sente um professor, que também é pai, em relação a vocês, tão diferentes, interessantes, cada um contendo um mundo em si. Como todo pai, e como também os professores, vislumbramos para cada um de vocês – a cada fala, cada olhar, em cada dia - um longo caminho à frente.
Vamos ajustando, aumentando nossas expectativas, na medida em que convivemos com as turmas e, nesta convivência, somos cada vez mais cativados por estes – me perdoem os pais – filhos emprestados, que chegam tarde e se vão cedo, para alçarem novos voos.
Porque o primeiro curso na Universidade é uma espécie de “rito de passagem”; acadêmico, mas também psicológico, social e espiritual. Nestes quatro ou cinco anos vocês substituíram aos poucos uma vida sob a tutela de vossos pais, sem grandes decisões a tomar, sem grandes consequências pelas escolhas, por uma nova fase em que são responsáveis pelo vosso destino. Surgem mil dúvidas, como:
Com o que vão trabalhar?
Aonde vão morar?
Com quem vão escolher viver?
Relembrando nossa própria juventude, nós, professores, tentamos imaginar como vão construir seus caminhos, quais decisões vão tomar, sendo que cada uma muda, potencialmente, todo o caminho para frente. Nossas questões são ligeiramente diferentes:
Será que serão felizes?
Como vão usar aquilo que aprenderam?
Será que poderíamos ter sido melhores, como professores?
De um lado, surge uma imensa vontade de dar mil conselhos; de condensar a experiência de nossas vidas e passar para vocês em poucos minutos... mas isso é inútil! Uma das coisas que demoramos a aprender, e o fizemos a duras penas, é que não há fórmula para o sucesso. Não há nem mesmo uma definição do que seja “sucesso”... A vida é tão diversa, tão multifacetada e tão cheia de surpresas, que eu só posso sentir, mais uma vez, e junto a vocês, aquele friozinho na espinha, aquela excitação de virar as páginas de um novo capítulo de um livro bom.
Talvez eu possa dizer algumas coisas. Poucas coisas. Aquelas que persistiram como verdades para mim, ao longo de muito tempo:
1) A primeira é que o futuro não está determinado. Temos, a todo momento, a capacidade de reescrevê-lo e, para isso, é fundamental manter uma atitude flexível e adaptável diante da vida. Falando em termos profissionais, isso é especialmente verdadeiro no caso da Biblioteconomia que, como as outras áreas, ou talvez mais do que as outras, está sendo afetada sobremaneira pelas mudanças e convergências, tecnológicas e sociais. Estamos assistindo a um redesenho completo dos saberes, dos processos, dos materiais e da forma como as pessoas registram e consomem informações. Isso tem consequências para os profissionais, “guardiões da aventura intelectual humana”. Acolham a necessidade de aprender sempre, e fiquem “antenados” para o que acontece às suas voltas.
2) Segundo: enquanto o mundo muda constantemente, o que lhes dará segurança é o reconhecimento do imutável dentro de si; da essência do que vocês são. Seus valores, suas referências, seus princípios. Estes, que são desenvolvidos no seio da família, os ajudarão a lidar com as decisões cotidianas sobre como devem agir e o que precisam aprender. Num mundo aonde a quantidade de estímulos aumenta vertiginosamente, é muito importante cuidar desta essência para domar a angústia sobre o desconhecido. Como disse Guimarães Rosa, “Viver é muito perigoso”.
3) Em terceiro, eu queria que acreditassem que podem ser grandes, e que realmente podem fazer a diferença. A história nos mostra que o maior limite para aquilo que alguém pode ser ou fazer é exatamente a capacidade que têm de acreditar naquilo a que se propõem. Em Mateus, Jesus nos disse “Sejam simples como a pomba, e prudentes como a serpente”. Se eu pudesse acrescentar algo, diria “sejam ousados, quando puderem”. A área da Biblioteconomia traz oportunidades fantásticas, mas elas demandam uma grande dose de empreendedorismo, preparação e criatividade. Sejam os agentes desta mudança.
4) Em quarto, e por último, queria dizê-los para – sempre – buscarem a verdade. Tudo o que eu digo são só palavras, que podem fazer sentido – ou não – com o tempo. Mas vocês devem ter como hábito a busca das respostas para as questões mais fundamentais de suas vidas, sem aceitar fórmulas e verdades alheias que não valem para si. O mais difícil é diferenciar aquilo que se pode aprender com os outros, da aceitação pouco crítica do que vale somente para os outros.
Para terminar este discurso, queria lembrar do que disse Cora Coralina, “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”... ou Beto Guedes, que disse: “A lição sabemos de cor, só nos resta aprender”. O cognitivo anda de mãos dadas com o afetivo, e nosso conhecimento tem que ser temperado com o nosso coração.
Foi um privilégio ter estado com vocês em tantas aulas, em tantas situações, assim como estar aqui hoje. Vocês me ensinaram coisas que trago em mim, que me ajudam a definir o que eu sou, e por isso, mais uma vez, eu queria dizer: obrigado.
Desejo-lhes sucesso, e que este sucesso tenha como medida a felicidade.
Parabéns pelo dia de hoje. Comemorem, pois vocês merecem.
Um abraço a todos,
Renato