23.7.09

Um texto muito bonito que achei na Internet...

Não se ama por partes

por Patrícia 'Ticcia' Antoniete
de Porto Alegre [RS]
[30/10/2008]

Eu espero que você me ame mesmo depois que o tempo fizer do meu corpo uma lembrança vaga da mulher que conheceste, mesmo depois que, de menina, só me restem os olhos e o brilho que puseste neles. Espero que você me ame mesmo depois de descobrir meus medos, meu segredos, minhas grutas, meus alçapões, mesmo depois de descobrir as feras em meus porões, minhas vergonhas mais tristes, minhas feiúras tão bem guardadas e escondidas, minhas dores atrozes, meus fantasmas, meus naufrágios, meus cadáveres insepultos.

Espero que você me ame além do amanhecer de uma noite perfeita, além do entardecer de uma tarde bonita. Espero que você me ame em plena tempestade, no meio do vento, do frio, na escuridão sem estrelas, no cansaço de porto nenhum, no desespero dos braços que não obedecem, na desesperança dos barcos que não voltam, no vazio.

Espero que você me ame mesmo depois de ver minhas mediocridades, minhas pequenezas, as infimidades que povoam minha vida, minhas cicatrizes, minhas garras, minhas presas, minhas unhas, as fraturas das minhas asas, meu medo de voar. Espero que você me ame depois de conhecer as minhas piores fraquezas, as minhas mais terríveis memórias, todas as dores que eu jamais serei capaz de superar.

Espero que você me ame imperfeita, triste, fraca, pequena, frágil, pouca e para você isso seja mais um motivo para me amar. Porque tudo isso me dimensiona e me configura, porque é também disso que eu sou feita, embora, mesmo para mim, seja tão doído de enxergar. Porque é assim que eu posso te amar: nua, inteira, incompleta.