Eu estava outro dia em uma banca de mestrado com uma colega de muito tempo, doutora pela FALE da UFMG. Surgiu o papo dos "lados B" dos professores. Ela contou que um aluno ficou bem surpreso quando descobriu que ela tinha escrito um livro de contos eróticos... rimos muito, e eu lembrei que uma vez uns alunos acharam uma foto minha meditando na Índia, e trouxeram para sala de aula. Em outra ocasião, fiz uma brincadeira com amigos no elevador de um hospital, e uma das moças que dividia a cabine conosco falou "- Não conhecia esse seu lado, professor Renato!" Que vergonha... :-)
Pois é. Por detrás das "personas" todos temos o nosso lado B. Dentre outras coisas que a gente se arrepende (ou não) de ter escrito ou exposto, são fotos em redes sociais, artigos e missivas, posts em blogs, etc. Será que temos que fazer deste lado "humano" sempre invisível? É fato que somos figuras quase "públicas", e depois de alguns anos de profissão centenas de alunos, senão milhares, já nos conheceram. Mas qual o limite da exclusão dos outros aspectos de nossas vidas?
Eu sempre achei que o médico, o psicanalista, o padre e o professor tinham algo em comum: são todos objetos de transferência, em termos psicanalíticos, e muitos não tomam cuidado e se inflacionam ao tomar este lugar. Por outro lado, não acredito em educação sem encontro, sem comunhão de subjetividades. O espaço do ensino e aprendizagem não pode ser anódino, pois assim não há construção de significado.
Então... que meus lados B, C e D sejam expostos para que a minha humanidade (falibilidade, limitações) sejam patentes. E que, ao sabermos-nos humanos, sejamos companheiros nesse processo de aprendizes-sujeitos, sempre inteiros.
Como disse Pessoa...
- Ricardo Reis, 14-2-1933
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.