5.5.10

O lado B(log) de cada um

Eu estava outro dia em uma banca de mestrado com uma colega de muito tempo, doutora pela FALE da UFMG. Surgiu o papo dos "lados B" dos professores. Ela contou que um aluno ficou bem surpreso quando descobriu que ela tinha escrito um livro de contos eróticos... rimos muito, e eu lembrei que uma vez uns alunos acharam uma foto minha meditando na Índia, e trouxeram para sala de aula. Em outra ocasião, fiz uma brincadeira com amigos no elevador de um hospital, e uma das moças que dividia a cabine conosco falou "- Não conhecia esse seu lado, professor Renato!" Que vergonha... :-)

Pois é. Por detrás das "personas" todos temos o nosso lado B. Dentre outras coisas que a gente se arrepende (ou não) de ter escrito ou exposto, são fotos em redes sociais, artigos e missivas, posts em blogs, etc. Será que temos que fazer deste lado "humano" sempre invisível? É fato que somos figuras quase "públicas", e depois de alguns anos de profissão centenas de alunos, senão milhares, já nos conheceram. Mas qual o limite da exclusão dos outros aspectos de nossas vidas?

Eu sempre achei que o médico, o psicanalista, o padre e o professor tinham algo em comum: são todos objetos de transferência, em termos psicanalíticos, e muitos não tomam cuidado e se inflacionam ao tomar este lugar. Por outro lado, não acredito em educação sem encontro, sem comunhão de subjetividades. O espaço do ensino e aprendizagem não pode ser anódino, pois assim não há construção de significado.

Então... que meus lados B, C e D sejam expostos para que a minha humanidade (falibilidade, limitações) sejam patentes. E que, ao sabermos-nos humanos, sejamos companheiros nesse processo de aprendizes-sujeitos, sempre inteiros.

Como disse Pessoa...

    Para ser grande, sê inteiro: nada
    Teu exagera ou exclui.
    Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
    No mínimo que fazes.
    Assim em cada lago a lua toda
    Brilha, porque alta vive.

    Ricardo Reis, 14-2-1933

1 comentário:

Letícia Capelão disse...

Ei Renato, isso me fez lembrar do que a Mestra Rowena fala sobre professores e humanidade. Transcrevo para cá: "... professores no amor, professores no perdão, professores na compaixão, professores na solidariedade, na humanidade... Porque, antes de qualquer outro sentimento, a palavra humanidade quer dizer aprender a amar o seu semelhante." (Mestra Rowena). Eu acho que o ser professor perpassa pelo encontro, pela humanidade, por ser humano, por ser inteiro, por ser amor. Bjos.