29.1.13

Este texto foi para o Facebook, mas creio que aqui tem um pouquinho mais de perenidade...
(29/01/2013)




Há quem, realmente, não precise,
(porque, concedo, há aqueles que são realmente felizes).

Há quem, mesmo precisando, não devam,
(digo, porque o mundo é melhor se não o fizerem).

Há quem nunca chegue a sabê-lo,
(o que não é ruim pois, por vezes, a ignorância é uma bênção)

Há os que chegam a entrar em contato, vez ou outra,
(o que, na maioria das vezes, passa desapercebido, pois a vida é uma sucessão ininterrupta e inexorável de eventos).

Há os que realmente chegam a saber, mas lhes falta repertório.
(o que é triste e, infelizmente, muito comum,
e para esses, o mundo oferece uma série de maus paliativos).

Há os que sabem de tudo isso, mas lhes falta coragem,
de saltar sem saber aonde vão pousar,
(e, pusilânimes, vivem a vida apertando o coração e os olhos por sinais no horizonte)

Há aqueles para quem, depois de um tempo, há um pouco de coragem e uma consciência mais que precária.

E dentre estes, os que não se escondem em limites imaginários,
E dentre estes, os que desafiam os limites reais,
E dentre estes, os que acreditam que felicidade é uma opção,
E dentre estes, os que aceitam que mudança leva tempo, e nunca é completa,
E dentre estes, os que não temem a noite escura da alma,
E dentre estes, aqueles que, finalmente, ousam mudar.

Para esses, boa sorte!

22.5.12

OUVIR ESTRELAS
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!"
E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto, Cintila.
E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
 E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

 (Olavo Bilac, Poesias, Via-Láctea, 1888.)

e o contraponto...

Divina Comédia Humana
Belchior



Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol
Quando você entrou em mim como um Sol no quintal
Aí um analista amigo meu disse que desse jeito
Não vou ser feliz direito
Porque o amor é uma coisa mais profunda que um encontro casual
Aí um analista amigo meu disse que desse jeito
Não vou viver satisfeito
Porque o amor é uma coisa mais profunda que um transa sensual
Deixando a profundidade de lado
Eu quero é ficar colado à pele dela noite e dia
Fazendo tudo de novo e dizendo sim à paixão morando na filosofia
Eu quero gozar no seu céu, pode ser no seu inferno
Viver a divina comédia humana onde nada é eterno
Ora direis, ouvir estrelas, certo perdeste o senso
Eu vos direi no entanto:
Enquanto houver espaço, corpo e tempo e algum modo de dizer não
Eu canto


11.2.11

Discurso que fiz aos formandos de 2010.2 na Biblioteconomia da UFMG ontem, como paraninfo.

Vou sentir saudades desta turma...

Belo Horizonte,  10/02/2011
 
Caros colegas componentes da mesa, caros alunos, familiares, amigos,
 
Em primeiro lugar, eu queria agradecer por ter sido escolhido para ser vosso paraninfo, e pela aceitação da indicação por aqueles que não tiveram aula comigo.
Eu estou muito feliz de estar aqui hoje com vocês.
 
Não sei se vocês têm ideia de como se sente um professor, que também é pai, em relação a vocês, tão diferentes, interessantes, cada um contendo um mundo em si. Como todo pai, e como também  os professores, vislumbramos para cada um de vocês – a cada fala, cada olhar, em cada dia - um longo caminho à frente.
Vamos ajustando, aumentando nossas expectativas, na medida em que convivemos com as turmas e, nesta convivência, somos cada vez mais cativados por estes – me perdoem os pais – filhos emprestados, que chegam tarde e se vão cedo, para alçarem novos voos.
 
Porque o primeiro curso na Universidade é uma espécie de “rito de passagem”; acadêmico, mas também psicológico, social e espiritual. Nestes quatro ou cinco anos vocês substituíram aos poucos uma vida sob a tutela de vossos pais, sem grandes decisões a tomar, sem grandes consequências pelas escolhas, por uma nova fase em que são responsáveis pelo vosso destino. Surgem mil dúvidas, como:
 
Com o que vão trabalhar?
Aonde vão morar?
Com quem vão escolher viver?
 
Relembrando nossa própria juventude, nós, professores, tentamos imaginar como vão construir seus caminhos, quais decisões vão tomar, sendo que cada uma muda, potencialmente, todo o caminho para frente. Nossas questões são ligeiramente diferentes:
 
Será que serão felizes?
Como vão usar aquilo que aprenderam?
Será que poderíamos ter sido melhores, como professores?
 
De um lado, surge uma imensa vontade de dar mil conselhos; de condensar a experiência de nossas vidas e passar para vocês em poucos minutos... mas isso é inútil! Uma das coisas que demoramos a aprender, e o fizemos a duras penas, é que não há fórmula para o sucesso. Não há nem mesmo uma definição do que seja “sucesso”... A vida é tão diversa, tão multifacetada e tão cheia de surpresas, que eu só posso sentir, mais uma vez, e junto a vocês, aquele friozinho na espinha, aquela excitação de virar as páginas de um novo capítulo de um livro bom.
 
Talvez eu possa dizer algumas coisas. Poucas coisas. Aquelas que persistiram como verdades para mim, ao longo de muito tempo:
 
1) A primeira é que o futuro não está determinado. Temos, a todo momento, a capacidade de reescrevê-lo e, para isso, é fundamental manter uma atitude flexível e adaptável diante da vida. Falando em termos profissionais, isso é especialmente verdadeiro no caso da Biblioteconomia que, como as outras áreas, ou talvez mais do que as outras, está sendo afetada sobremaneira pelas mudanças e convergências, tecnológicas e sociais. Estamos assistindo a um redesenho completo dos saberes, dos processos, dos materiais e da forma como as pessoas registram e consomem informações. Isso tem consequências para os profissionais, “guardiões da aventura intelectual humana”. Acolham a necessidade de aprender sempre, e fiquem “antenados” para o que acontece às suas voltas.
 
2) Segundo: enquanto o mundo muda constantemente, o que lhes dará segurança é o reconhecimento do imutável dentro de si; da essência do que vocês são. Seus valores, suas referências, seus princípios. Estes, que são desenvolvidos no seio da família, os ajudarão a lidar com as decisões cotidianas sobre como devem agir e o que precisam aprender. Num mundo aonde a quantidade de estímulos aumenta vertiginosamente, é muito importante cuidar desta essência para domar a angústia sobre o desconhecido. Como disse Guimarães Rosa, “Viver é muito perigoso”.
 
3) Em terceiro, eu queria que acreditassem que podem ser grandes, e que realmente podem fazer a diferença. A história nos mostra que o maior limite para aquilo que alguém pode ser ou fazer é exatamente a capacidade que têm de acreditar naquilo a que se propõem. Em Mateus, Jesus nos disse “Sejam simples como a pomba, e prudentes como a serpente”. Se eu pudesse acrescentar algo, diria “sejam ousados, quando puderem”. A área da Biblioteconomia traz oportunidades fantásticas, mas elas demandam uma grande dose de empreendedorismo, preparação e criatividade. Sejam os agentes desta mudança.
 
4) Em quarto, e por último, queria dizê-los para – sempre – buscarem a verdade. Tudo o que eu digo são só palavras, que podem fazer sentido – ou não – com o tempo. Mas vocês devem ter como hábito a busca das respostas para as questões mais fundamentais de suas vidas, sem aceitar fórmulas e verdades alheias que não valem para si. O mais difícil é diferenciar aquilo que se pode aprender com os outros, da aceitação pouco crítica do que vale somente para os outros.
 
Para terminar este discurso, queria lembrar do que disse Cora Coralina, “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”... ou Beto Guedes, que disse: “A lição sabemos de cor, só nos resta aprender”. O cognitivo anda de mãos dadas com o afetivo, e nosso conhecimento tem que ser temperado com o nosso coração.
 
Foi  um privilégio ter estado com vocês em tantas aulas, em tantas situações, assim como estar aqui hoje. Vocês me ensinaram coisas que trago em mim, que me ajudam a definir o que eu sou, e por isso, mais uma vez, eu queria dizer: obrigado.
 
Desejo-lhes sucesso, e que este sucesso tenha como medida a felicidade.
Parabéns pelo dia de hoje. Comemorem, pois vocês merecem.
 
Um abraço a todos,
Renato

22.5.10

Eu estou bem em uma fase "Encontros e Despedidas"

Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço, venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero

Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim, chegar e partir

São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também de despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida

16.5.10

Texto muito sensível, que recebi de uma amiga... republico aqui, sem comentá-lo.

"Fui amada liquidamente. Quem já não foi? Mas eu não sou de amores líquidos. Não sou simplesmente uma “colecionadora” de experiências, pois amadureço meus sentimentos e planos, apesar de conseguir separar tudo isso de vivências frívolas que eventualmente preenchem meu tempo. Sou de amores quase eternos, que muitas vezes se convertem da paixão à amizade ou do ódio à compaixão. Só não consigo sentir nada - sempre me posiciono em relação às pessoas com quem convivo. Me ame ou me odeie, mas não me ignore.

Hoje ouvi que a geração dos anos 80 em diante sofre desse mal: dos amores líquidos. Eu diria que isso começou em 1979, mas soaria uma perseguição pessoal com este ano (e de fato é). Mas decidi experimentar a carapuça e aprofundar minha opinião sobre este assunto. E quando procurei no Google do que se tratava a “Geração Y”, também mencionada no evento do qual participei, encontrei a seguinte definição:

“A Geração Y, também referida como Geração Millennials ou Geração da
Internet
é um conceito em Sociologia que se refere, segundo alguns autores, à coorte dos nascidos após 1980 e, segundo outros, de meados da década de 1970 até meados da década de 1990, sendo sucedida pela Geração Z. Esta geração desenvolveu-se numa época de grandes avanços tecnológicos e prosperidade econômica. Os seus pais, não querendo repetir o abandono das gerações anteriores, encheram-os de presentes, atenções e atividades, fomentando a sua auto-estima. Cresceram vivendo em ação, estimulados por atividades, fazendo tarefas múltiplas. Acostumados a conseguirem o que querem, não se sujeitam às tarefas subalternas de início de carreira e lutam por salários ambiciosos desde cedo. Enquanto grupo crescente, tem se tornado o público-alvo do consumo de novos serviços e na difusão de novas tecnologias. As empresas desses segmentos visam atender esta nova geração de consumidores que se constitui um público exigente e ávido por inovações. Preocupados com o meio ambiente e causas sociais, essa nova geração tem um ponto de vista diferente das gerações anteriores que viveram épocas de guerras e desemprego, com o mundo praticamente estável e mais comodo a liberdade de expressão, esses jovens conseguiram se preocupar com valores esquecidos como vida pessoal, bem-estar e enriquecimento pessoal.”
Como estes dois conceitos se ligam é algo que pode mudar sua percepção de si mesmo, para o bem ou para o mal. Afinal, até profissionalmente muitos vivem hoje “amores líquidos”. Caso se interessem pela polêmica envolvida, acessem: http://www.digestivocultural.com/ensaios/ensaio.asp?codigo=123. O sociólogo polonês Zigmunt Bauman define esse "mal" que ronda as últimas gerações e uma “neura social” cujo fim não se pode prever. Citando um trecho da autora Gioconda Bordon, “a noção de liquidez, quando se refere às relações humanas, tem um sentido inverso ao empregado nas relações bancárias, a disponibilidade de recursos financeiros. A liquidez de quem tem uma conta polpuda no banco, acessível a partir de um comando eletrônico é capaz de tornar qualquer desejo uma realidade concreta. É um atributo potencializador. O amor líquido, ao contrário, é a sensação de bolsos vazios.” Essa liquidez, decorrente de um contexto social e tecnológico que revolucionou nossos relacionamentos, também invadiu nossas escolhas profissionais nos últimos anos. Entretanto, descobri que realmente sou fiel e que não perdi a coragem de recuar, pois voltei ao emprego com o qual eu realmente me identificava e onde ainda estou.

Amar liquidamente pode ser apenas mais um modelo de solidão imposto pelos nossos tempos modernos. Entretanto, volto aos questionamentos que cada um precisa responder para saber qual é a melhor estratégia de vida no seu caso: Antes só do que mal acompanhado? Não se prenda a uma empresa que não se prende a você? Arriscar pode trazer uma opção melhor? É melhor um “contentar-se descontente”? A única resposta plausível é que não existe fórmula mágica.

Você pode aprender a amar liquidamente para se decepcionar menos com as pessoas, especialmente enquanto ainda estiver dolorido. Você pode amar liquidamente para se arriscar profissionalmente, caso ainda não tenha se encontrado no mercado de trabalho. Entretanto, você não pode amar liquidamente sua família, seus amigos, seus planos de vida. Não se perca na tentação de viver em círculos vazios que não te trazem pressão, pois a qualquer momento, você vai precisar de um porto seguro.

Eu sei que meus amigos vão esbravejar por mais uma postagem gigantesca, mas não resisto aos links possíveis a este tema. O livro “Amores Risíveis”, uma das obras de Milan Kundera. Lembro-me deste livro na estante da casa da minha mãe, empoeirado e proibido para a minha cabeça ainda infantil. Quando consultamos a simbologia desta obra, encontramos uma definição que consolida esse tema: “O risível é a necessidade humana pela farsa, pela simulação, pela representação teatral e a incapacidade de experimentar sentimentos verdadeiros. Através da incapacidade de comunhão dos personagens, Kundera parece querer desvelar para o leitor a absoluta falta de sentido da vida sob essas condições. É a velha temática da solidão humana, sua impossibilidade de transposição dos limites da subjetividade.”

Não sou de amores líquidos. Acredito nas relações humanas, apesar de compreender claramente as possíveis falhas às quais todos estamos sujeitos. Não acredito em pessoas perfeitas, em sentimentos sempre infalíveis, mas ainda assim tenho absoluta certeza de que não somos nada sem o próximo. O próximo nos define emocionalmente, territorialmente e especialmente como “gente de carne e osso”. Afinal, nossos sentimentos são respostas, reflexos ou impulsos que adotamos diante daquilo que o próximo causa em nossos nervos, neurônios e corações. Doar-se (sem perder a singularidade) quando valer a pena é um ato de coragem, uma escolha com riscos, mas ainda é a melhor forma de encontrar-se no seu destino."

(Depois da enxaqueca, a insônia...)
Ana Carolina Prado

5.5.10

O lado B(log) de cada um

Eu estava outro dia em uma banca de mestrado com uma colega de muito tempo, doutora pela FALE da UFMG. Surgiu o papo dos "lados B" dos professores. Ela contou que um aluno ficou bem surpreso quando descobriu que ela tinha escrito um livro de contos eróticos... rimos muito, e eu lembrei que uma vez uns alunos acharam uma foto minha meditando na Índia, e trouxeram para sala de aula. Em outra ocasião, fiz uma brincadeira com amigos no elevador de um hospital, e uma das moças que dividia a cabine conosco falou "- Não conhecia esse seu lado, professor Renato!" Que vergonha... :-)

Pois é. Por detrás das "personas" todos temos o nosso lado B. Dentre outras coisas que a gente se arrepende (ou não) de ter escrito ou exposto, são fotos em redes sociais, artigos e missivas, posts em blogs, etc. Será que temos que fazer deste lado "humano" sempre invisível? É fato que somos figuras quase "públicas", e depois de alguns anos de profissão centenas de alunos, senão milhares, já nos conheceram. Mas qual o limite da exclusão dos outros aspectos de nossas vidas?

Eu sempre achei que o médico, o psicanalista, o padre e o professor tinham algo em comum: são todos objetos de transferência, em termos psicanalíticos, e muitos não tomam cuidado e se inflacionam ao tomar este lugar. Por outro lado, não acredito em educação sem encontro, sem comunhão de subjetividades. O espaço do ensino e aprendizagem não pode ser anódino, pois assim não há construção de significado.

Então... que meus lados B, C e D sejam expostos para que a minha humanidade (falibilidade, limitações) sejam patentes. E que, ao sabermos-nos humanos, sejamos companheiros nesse processo de aprendizes-sujeitos, sempre inteiros.

Como disse Pessoa...

    Para ser grande, sê inteiro: nada
    Teu exagera ou exclui.
    Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
    No mínimo que fazes.
    Assim em cada lago a lua toda
    Brilha, porque alta vive.

    Ricardo Reis, 14-2-1933

3.5.10

Músicas e Memória

Como podem ser
certas músicas, cápsulas do tempo.
Me transportam por anos, décadas, distâncias a se perder...

Como se capturassem momentos
Nas entrelinhas de versos, vozes e letras
Tantas pessoas, rostos, sensações, pensamentos

Tenho apenas 100 gigabytes de música
E todo o sentimento do mundo...