25.9.09

Álvaro de Campos (a.k.a. Fernando Pessoa)

O Que Há


O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...

2 comentários:

Elisa Lis disse...

Engraçado,

esse poema não dá para fixar apenas em uma informação, pq quando vc tenta entender uma, já vê logo a frente outro sentimento vivido.
Mto bom. Sempre Pessoa... =)

Letícia Capelão disse...

Há sobretudo um cansaço em nós...

Um cansaço que a mim leva, sobretudo, a caminhar amando infinitamente, desejando impossivelmente sempre e querendo tudo que puder ser.

Lembrei-me agora deste poema, quando li no blog da Rosinha (uma amiga especial) que ela também está cansada.

"(...) A verdade respeita. A verdade ouve e vê. A verdade é. Estou cansada de sorrisos planejados. Estou cansada de ver a burrice invejosa que impede o crescimento e a prosperidade do todo. (...)"

Se quiser, dá um pulinho lá e leia na íntegra: "Miséria humana" (http://rosaantuna.blogspot.com)

Beijos.